Afastada da prefeitura do Natal desde o começo de novembro, a via crucis
da ex-prefeita Micarla de Sousa parece não ter fim. Neste sábado, a
ex-gestora municipal foi alvo de uma matéria publicada no site da
revista veja e escrita pelo jornalista Marcelo Sperandio. Na matéria,
intitulada "Na mira do MP, prefeita de Natal tem gastos de rainha", o
jornalista fala sobre os números de gastos divulgados pelo MP na
operação que envolve Micarla e ainda sobre o índice de rejeição dela
enquanto gestora, que atingiu a marca de 92%, um recorde no país.
Desde
que foi afastada da prefeitura, Micarla tentou voltar, mas teve pedido
negado pelo Tribunal de Justiça do estado e também pelo Superior
Tribunal de Justiça.
Veja abaixo íntegra da matéria publicada nesta sexta pela Veja Online
Na mira do MP, prefeita de Natal tem gastos de rainha
Marcelo Sperandio
Folha
salarial de dezenove funcionários domésticos, como motorista,
faxineira, governanta e secretária: 21 500 reais. Gastos com roupas e
relógios: 5 800 reais. Viagens internacionais: 35 000 reais. Reparos na
casa: 11 600 reais. Esses são alguns dos gastos mensais de Micarla de
Sousa (PV), afastada da prefeitura de Natal no mês passado sob acusação
de desviar dinheiro de contratos públicos. A conta chegava a 180 000
reais por mês - mais do que todo o ganho declarado por Micarla durante
um ano, de 168 000 reais (seu salário era de meros 14 000 reais).
A
investigação do Ministério Público do Rio Grande do Norte começou em
2011 e detectou problemas em várias áreas da prefeitura. Os primeiros
indícios de irregularidades surgiram em contratos da Secretaria de
Saúde, que somavam 65 milhões de reais - e, segundo os promotores, eram
superfaturados. O episódio alcançou, por acaso, a pasta da Educação. Em
apreensões feitas nas casas de secretários municipais, foram encontradas
planilhas sobre distribuição de propina. Esses documentos informavam
que Micarla ficava com 10% do valor total dos contratos de uniformes
escolares e merenda. O marido da prefeita, Miguel Weber, levava 5% dos
uniformes e 2% da merenda, de acordo com as planilhas. Só nesse caso,
concluiu o Ministério Público, o casal amealhou 194 000 reais. Foi
nesses arquivos que os promotores localizaram as tabelas com os gastos
pessoais da prefeita afastada de Natal, totalmente incompatíveis com os
seus rendimentos - ao menos os oficiais.
A irregularidade típica
do dinheiro sujo - que não cai todo mês na conta, como o salário dos
funcionários honestos - ajuda a explicar o malabarismo que assessores de
Micarla tinham de fazer para lidar com os problemas bancários da chefe.
Francisco de Assis, coordenador da Secretaria de Saúde mas na prática
secretário particular da prefeita, era um dos mais atarefados. Em uma
das interceptações autorizadas pela Justiça, Micarla lhe enviou a
seguinte mensagem de celular: “Assis, dá uma olhada na minha conta e nos
meus cartões. Me diga quanto eu tenho disponível e veja se minha conta
tá o.k. ou se voltou algum cheque”. Em seguida, Assis respondeu: “Saldo
devedor de 27 500 reais. Temos que resolver essa situação, pois os
cartões estão no momento bloqueados”. Em outra, ele ligou para a gerente
da prefeita no Banco do Brasil. Perguntou como estavam os saldos da
conta-corrente e dos cartões de crédito de Micarla, porque ela viajaria
para Miami. A gerente informou: “Entrou um cheque hoje e faltaram 200
reais. O total do saldo devedor é 32 900 reais. O cartão dela está com
restrições”. Em algum momento, pressupõe-se, a conta deixou o vermelho,
já que Micarla continuou com crédito. Mas só no banco. Entre a
população, não se pode dizer o mesmo: a rejeição é de 92%. Descrédito
total.
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